Fortaleza. Embora parado no Vaticano, o processo de reabilitação do Padre Cícero Romão Batista ganha reforço com a história recente de canonização de um outro religioso: o padre italiano, Pio. Coincidências intrigantes ligam estes dois protagonistas de histórias de fé - um em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, e o outro, no povoado de Pietrelcina, província de Benevento, na região sul da Itália. A devoção popular, ainda em vida, fez surgir dois eclesiásticos que misturaram política, mística e religião, levantando suspeitas dos mais céticos e a desaprovação da Igreja Católica Apostólica Romana.
A diferença é que o italiano, devidamente reabilitado, é oficialmente santo desde 2002, ao passo em que o cearense ainda aguarda reabilitação por parte de Roma. "Existem pelo menos 12 coincidências intrigantes entre as histórias de Cícero e Pio. Por isso, eu creio na possibilidade de o Padre Cícero ser reabilitado e beatificado", afirma o frei Hermínio Bezerra, tradutor da língua portuguesa em Roma, na Cúria Geral dos Capuchinhos. Mas ele adianta: "não será fácil (a reabilitação e possível canonização do Padre Cícero) e sobretudo não será rápido, pois os fatos estão muito distantes".
O próprio Pio de Pietrelcina passou por um longo processo de 20 anos para ser canonizado - resume frei Hermínio. "O processo foi aberto em 1983, ele foi proclamado venerável em 1987, beatificado em 1999 e canonizado em 16 de junho de 2002", completa. Ao padre italiano, que nasceu em 1887 e morreu em 1968, atribuiram-se o dom da premonição e muitas profecias. Algumas das coincidências entre as biografias dos dois religiosos são apontadas no livro "Chão Sagrado de Juazeiro", do frei Glauber Pinheiro, obra com previsão de lançamento em junho deste ano.
Venerado ainda em vida, São Pio teve esta adoração desencorajada pela Igreja. Sofreu inquéritos da Santa Sé que culminaram com a suspensão temporária da sua permissão para celebrar. Isto porque, em 1918, após uma missa, surgiram em seu corpo os estigmas (chagas), semelhantes aos de Cristo. Sua fama de santidade logo se espalhou e começou a afluência de devotos de toda a Itália. O frade capuchinho carregou no corpo os estigmas por 50 anos. À época, o Santo Ofício investigou se ele utilizava produtos químicos para manter as chagas - o que foi negado pela investigação.
O Padim Ciço nasceu em 1844 e morreu em 1934. Como tão ilustre "companheiro de infortúnio" italiano - para usar o termo de frei Hermínio -, a ele também foram atribuídos dons de premonição, profecias e fatos miraculosos. Foi alvo de inquéritos da parte da Igreja e proibido temporariamente de celebrar, após o caso da hóstia que virou sangue na boca da beata Mocinha. Cícero também foi acusado do uso de produtos químicos para que sanguíneos ficassem manchados de vermelho. Já a beata que acudiu Pio chamava-se Olga Iesi.
E para os que ainda duvidam que religião e política não se misturam, vale mencionar que tanto Cícero quanto Pio tiveram envolvimento político. "Segundo biógrafos, São Pio foi defendido pelo Partido Fascista Italiano", comenta frei Hermínio. E o Padim Ciço chegou a ser prefeito de Juazeiro do Norte. "O Padre Cícero teve aberto um Processo Oficial de Reabilitação, por iniciativa de dom Fernando Panico, em 2005. Torço pela sua total reabilitação junto à Igreja Católica, com a aprovação do Vaticano, que abrirá a possibilidade da instauração de um processo para a sua beatificação e canonização". Alheia aos meandros da "santa madre" Igreja, a fé no Padim Ciço segue inabalável no cotidiano de milhares de brasileiros - sobretudo dos nordestinos.
fonte Diário do Nordeste
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