sábado, 18 de junho de 2011

História da ferrovia no Ceará é eternizada em documentário


Clique para Ampliar
Estação de trem da cidade de Iguatu. A história da ferrovia começa com a implantação dos trilhos no Império, em 1870
HONÓRIO BARBOSA
Clique para Ampliar
Antiga estação de trem do Município de Senador Pompeu, no Sertão Central. Na seca de 1932, muitas pessoas que queriam embarcar para a Capital, para fugir da morte, eram barrados no lugar
HONÓRIO BARBOSA
Sob o título sugestivo "O último apito", um documentário de 1h30 foi finalizado depois de seis anos de pesquisa
Iguatu. Depois de seis anos de pesquisa, entrevistas, fotos e filmagens, foi finalizada a edição do primeiro vídeo sobre a história da ferrovia no Estado do Ceará. Sob o título sugestivo "O último apito", o documentário de 1h30, com foco no relato emocionado de ex-ferroviários, resgata aspectos históricos, desde a implantação da estrada de ferro no fim do século XIX até a desativação do trem de passageiro na década de 1980. A direção é do memorialista Aderbal Nogueira, com produção de Maristela Mafuz. O apoio institucional para o trabalho foi do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

A ferrovia teve uma importância fundamental para o desenvolvimento do Estado. O trem de carga e de passageiros encurtou distância, facilitou as comunicações e ampliou em quantidade e velocidade o transporte da produção agrícola e pecuária do sertão para a Capital e de produtos industrializados no caminho inverso, de Fortaleza para o Interior do Ceará.

Implantação

O período retratado no vídeo compreende um pouco mais de um século. A história da ferrovia começa com a implantação dos trilhos ainda na época do Império, em 1870, para a construção do primeiro ramal entre Fortaleza e Parangaba. Em 1873, partia o primeiro trem, uma pequena composição puxada por uma máquina a vapor (Maria-Fumaça).

Depois os trilhos se estenderam até Baturité e foram avançando pelo sertão cearense até chegar à cidade do Crato, na região do Cariri, em 1927. A última viagem do trem de passageiro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi feita em 1988. Narrar toda essa história exige determinação. E foi justamente o que não faltou ao diretor, Aderbal Nogueira.

Mesmo sem apoio, somente a participação do Senai na fase de conclusão do trabalho, uma equipe de dez técnicos realizou dezenas de viagens por várias cidades do interior. O objetivo era colher imagens das antigas estações de trem, gravar depoimentos de ex-ferroviários, de operários que trabalharam na construção da via férrea e de vendedores que aguardavam com expectativa a chegada de cada trem ao bater do sino e na plataforma disputavam espaço com centenas de moradores, bem vestidos. Afinal, a passagem do trem era um acontecimento social nas pequenas cidades do sertão.



Lembranças

O maquinista aposentado, Francisco Monte, dá um depoimento emocionante e de triste memória. "Na seca de 1932, vi muita gente morrendo de fome, na calçada da estação de Iguatu e de Afonso Pena (hoje Acopiara)". Em meio a lágrimas recorda: "Era uma cena triste, que doía na gente. Multidão querendo embarcar em direção à Capital para fugir da morte. Os flagelados eram barrados em Senador Pompeu, onde havia um campo de concentração de sertanejos famintos e doentes".

A última viagem de trem entre as cidades de Camocim e Sobral, na Zona Norte, é relatada no depoimento do ex-maquinista, José Rodrigues, o Zequinha. "O povo ficou no meio dos trilhos, chorando, sem querer deixar o trem partir", relembrou. "Eu também chorava muito. Foi triste".

O pesquisador de música e memorialista, Christiano Câmara, apresenta um desabafo contra a extinção do trem de passageiro, da valorização do transporte rodoviário em detrimento do ferroviário. "Na Europa, o trem é exemplo de luxo e progresso, mas no Brasil é de pobreza e retrocesso".

O transporte ferroviário de passageiros atendia a necessidade das famílias de baixa renda. A sua extinção provoca ainda hoje revolta no pesquisador Câmara e no diretor do documentário. "Foi um crime o que fizeram", disse Nogueira.

A ferrovia impulsionou o desenvolvimento do Ceará. "Quando o trem chegava do Interior, as mercadorias eram transportadas em lombo de animais em Fortaleza porque naquela época não havia carro", observa o engenheiro aposentado da RFFSA, Hamilton Pereira. Os produtos seguiam para os mercados, casas comerciais e para as indústrias. "Esse documentário tem importância fundamental para o resgate da história da ferrovia", destacou.

A produção do documentário "O último apito" não tem fins comerciais. O produtor Aderbal Nogueira pretende exibir o vídeo nas cidades do interior onde há ferrovia. "Esse é o meu sonho", disse. "É um resgate da memória da ferrovia que dedico aos ferroviários, ao povo do meu Estado".


Pioneiro

O primeiro trem no Ceará saiu de Fortaleza em direção a Pacatuba em 30 de novembro de 1873. A Estação de Trem de Fortaleza, conhecida por Central, foi construída em 1880 e a denominação oficial de Estação João Felipe, em homenagem ao ministro cearense, no governo republicano de Floriano Peixoto, ocorreu em 1946. Atribui-se a padre Cícero a intenção de que a ferrovia não seguisse até a cidade de Crato. O fim da linha férrea seria em Juazeiro do Norte. O documentário "O último apito" tem imagens de Aderbal Nogueira, Wilson Freires, Izaías de Lima, Marcos André Rodrigues e Willam Lima. Reportagens de Lívia Fersernache e Vânia Galceran. A edição é de Marcos André Rodrigues e Wellington Julião. A fotografia é de Aderbal Nogueira e Wilson Freires, e fotos do arquivo de Hamilton Pereira, Assis Lima, Nirez e da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).
fonte diario do nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário