terça-feira, 29 de novembro de 2011

Transporte irregular mata três estudantes por ano no Ceará

Foto ilustrativa

 Em dez anos, 27 estudantes morreram em decorrência de acidentes de veículos de transporte escolar no interior Ceará, a maioria em veículos conhecidos como “paus de arara”

No mesmo período, os acidentes deixaram 210 crianças e jovens feridos. São 2,7 mortes e 21 feridos a cada ano, entre 2001 e 2010. Este ano, morreram três estudantes e 30 ficaram feridos, em dois acidentes no Interior do Estado.

O levantamento, a partir de matérias publicadas no O POVO, não leva em conta os estudantes que podem ter morrido após os acidentes, devido aos ferimentos – graves, em muitos casos. Os registros referem-se aos casos de grandes proporções, que chegam ao conhecimento da imprensa. Levando-se essa variável em conta, pode-se considerar que o número de mortos e feridos é maior do que o apresentado neste levantamento.

O promotor Luiz Alcântara, do Ministério Público do Estado do Ceará (MPE), garante que os acidentes com veículos escolares são ainda mais frequentes, pois somente uma pequena parte é divulgada nos jornais. Para ele, “em praticamente todas as cidades” do Interior do Ceará trafegam veículos irregulares no transporte de crianças: “A regra é o caminhão [pau de arara], a exceção é o transporte organizado”.

Para Alcântara, “noventa por cento das empresas que participam das licitações não têm veículos para locar”, subcontratando outras pessoas, transformando o serviço em uma terceirização da terceirização. Ele afirma que as licitações não exigem “requisitos mínimos” para o transporte escolar, “tudo o que não presta serve para transportar estudantes”.

Atuando na Procuradoria de Crimes contra a Administração Pública (Procap), Luiz Alcântara diz que o transporte escolar é uma “moeda política”, possibilitando o mau uso de recursos. Segundo ele, os desvios ocorrem com o favorecimento nas licitações, sobrepreço e “aumentando-se artificialmente o trajeto dos veículos, que são pagos por quilômetro rodado”.

Eliane Brasileiro (PRB), presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) discorda do promotor. Segundo ela, “tudo é fiscalizado” pelos órgãos competentes, impedindo possíveis irregularidades.

Contas

O promotor Herton Cabral, que atua na cidade de Russas, resolveu fazer algumas contas. Ele somou o valor despendido pela Prefeitura da cidade, durante cinco anos (2007 a 2011), para transportar quatro mil alunos, chegando ao valor de R$ 6.955.788,16 - cerca de R$ 1,4 milhão por ano.

Com esse montante, segundo Herton, seria possível à Prefeitura fazer uma programação e, em três anos, substituir todos os veículos irregulares por transporte adequado.

A medida é ainda mais factível, segundo o promotor, pois o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem linha especial de crédito para a compra de veículos padronizados para o transporte escolar, o programa Caminho da Escola.

Os prefeitos ainda dispõem de outro benefício: a cada ônibus comprado, o governo do Estado doa outro (até o limite de cinco veículos), sem nenhum custo ao município. Herton diz que o mesmo estudo feito para Russas pode ser aplicado à maioria das cidades.

A secretária da Educação do Ceará (Seduc), Izolda Cela, evita opinar sobre os números levantados pelo promotor. Para ela, os “desafios” para solucionar o problema são grandes, e diz haver esforço das administrações municipais para superá-lo.

Entende, porém, que com os repasses do governo federal, do governo estadual, investimento das próprias prefeituras e “gestão eficiente” dos recursos, seria possível atender os estudantes “com nível suficiente de segurança e comodidade”. Mas ressalva que para transformar todo o transporte escolar rural no Ceará em “padrão de qualidade” seria necessário “muito mais dinheiro”.

Segundo dados da Seduc, o valor do repasse para o transporte escolar nos municípios subiu de R$ 30,367 milhões (2006) para R$ 70,819 milhões (2010), considerando-se recursos dos governos estadual e federal.
Fonte: O Povo Online

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