domingo, 22 de abril de 2012

Patrimônio submerso é esquecido no litoral de Fortaleza

Novo espigão na Praia de Iracema soterra naufrágio datado de 1908
 Conhecer os mistérios do oceano é privilégio que poucos desfrutam. Para a maioria, trata-se de um mundo desconhecido, que fascina pela beleza e infinidade de espécies marinhas. Outro segmento que atrai a curiosidade de mergulhadores são os naufrágios. Apesar de não estarem visíveis, eles fazem parte do patrimônio histórico da cidade e guardam importante fragmento da história local. Mesmo assim, não existe no Ceará nenhum projeto que objetive resgatar e preservar essa cultura submersa.
De acordo com o Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), existem 76 naufrágios catalogados no Ceará, sendo 12 em Fortaleza. Entretanto, ressalta Marcelo Soares, professor do Labomar e vice-coordenador do curso de Ciências Ambientais, este número deve ser bem maior, pois não existe no Estado nenhum profissional especialista em mergulho arqueológico, assim como nenhum curso de graduação em arqueologia nas universidades públicas e privadas.
Ao mesmo tempo que surge uma demanda de arqueólogos formados para atuarem em arqueologia de contrato - vertente que se consolidou com a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (001/1986), o qual obriga a elaboração de estudos arqueológicos em área sujeita à destruição por obras que causam impacto ambiental -, existe uma defasagem de profissionais nessa área no Estado.
A Universidade Federal do Ceará, por meio do Labomar, em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a operadora de mergulho Mar do Ceará realiza de 23 a 28 de abril um curso de extensão em arqueologia subaquática. Soares explica que a ideia possibilitar aos profissionais que trabalham na área de mergulho a atuar como arqueólogos. "Tem regiões que ainda não foram exploradas e já estão sendo degradadas", alerta.                             
História destruídaFoi o que aconteceu na Praia de Iracema, onde um navio datado de 1908, naufragado ao lado da ponte velha, próximo à Ponte dos Ingleses, foi soterrado em dezembro do ano passado por toneladas de pedras para a construção de um espigão. "É a mesma coisa que derrubar um prédio histórico", compara Marcelo Soares. A intervenção faz parte do projeto da nova Praia de Iracema, da Prefeitura de Fortaleza.
A Coordenadoria de Projetos Especiais e Relações Institucionais e Internacionais (Cooperii), responsável pela obra, afirma que foram realizados todos os estudos necessários de batimetria e mergulho na área, inclusive pelo Labomar, e não foi encontrado nenhum impedimento para a construção do espigão. O órgão informa ainda que outros dois espigões estão previstos no projeto, na Rua João Cordeiro e na Avenida Rui Barbosa.
O mergulhador Marcus Davis, da operadora Mar do Ceará, que acumula mais de mil mergulhos, comenta ser uma pena um projeto que visa resgatar a memória de Fortaleza tenha esquecido de preservar a cultura submersa. "São muitos os naufrágios que jazem em nosso litoral, cada um deles, como em uma cápsula do tempo, guardam fragmentos da nossa história. Existe uma carência de profissionais nessa área e falta de incentivo do poder público e da iniciativa privada nessa vertente da arqueologia que traz pouco retorno financeiro e grande retorno histórico cultural", frisa.
Soares lamenta o soterramento do navio e disse que ninguém o tinha estudado. "Seria uma informação importante, visto que a Praia de Iracema, antes da criação do Porto do Mucuripe, funcionou durante muitos anos como o porto de Fortaleza. Infelizmente, esse patrimônio foi degradado. Agora fica o alerta para que isso não ocorra novamente".
A Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio da assessoria de comunicação, informa que não existe nenhum projeto no sentido de criar um curso de graduação em arqueologia. Já a Secretaria de Turismo do Ceará (Setur) afirma que não trabalha nesse segmento, porque não existe demanda para promover esse tipo de turismo no Estado.
Marcélia Marques, arqueóloga e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), comenta que, tradicionalmente, a arqueologia está relacionada à duas áreas de conhecimento: história e antropologia. Ela tem como objeto principal o conhecimento da cultura material, dos vestígios arqueológicos produzidos desde a pré-história e possibilitam a aproximação e a reconstituição do que aconteceu com as sociedades desaparecidas.

No Ceará, a especialista comenta que os vestígios arqueológicos mais expressivos são as pinturas em afloramentos rochosos, a indústria lítica (artefatos em pedra lascada), vestígios cerâmicos, restos ósseos de animais e o patrimônio edificado, assim como toda a cultura material desses ambientes. Para a professora, os Estados estão percebendo que há uma demanda crescente de arqueólogos, por isso, muitos optam pela criação de cursos de graduação.


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...Titanzinho
 Avião do Bandeirantes
 Fonte: Portal Diário do Nordeste Online

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