"Convocamos os poderes públicos a reconhecerem suas
responsabilidades intransferíveis na inversão de valores que priorizam a
convivência com o semiárido em detrimento de arcaicas e fracassadas
práticas de combate à seca". Esta é uma das reivindicações da
"Declaração sobre o atual momento de seca no Ceará", destacadas à
imprensa na manhã de ontem pelos bispos do Ceará e representantes da
Cáritas Regional, durante entrevista coletiva, na Casa de Encontro Maria
Auxílio, em Fortaleza.
Dos
184 municípios, 176 encontram-se em estado de emergência decretado,
afetando diretamente a agricultura familiar fotos: Waleska Santiago
Durante
a reunião, os religiosos apresentaram o documento no qual retrata, em
números e argumentos, a preocupação da Igreja, dos movimentos e
pastorais sociais, além da sociedade civil organizada, quanto a atual
situação do semiárido nordestino e quanto também à ação dos gestores
estadual e municipal para minimizar a situação.
Eles revelaram
que a Declaração foi entregue em maio por eles ao governador do Estado,
Cid Gomes, e ao secretário do Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins. A
carta com as propostas de ações emergenciais e estruturantes de
convivência com o semiárido, é resultado de um encontro anterior, entre
os mesmos representantes que elaboraram o documento.
De acordo
com dom José Haring, presidente do Regional Nordeste I da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo de Limoeiro do Norte, a
cobrança ao governo estadual, por meio da imprensa, ocorre justamente
pela demora na resposta do gestor estadual à carta.
"Chamamos à
imprensa para mostrar esta carta que apresenta as ações elaboradas pelos
bispos e movimentos sociais, a fim de cobrar mais políticas públicas do
governo e celeridade nas ações que destacamos na carta. Avaliamos que
as políticas públicas existentes são positivas, é verdade, mas não
suficientes para todo o semiárido. Existem regiões com grande potencial
hídrico, mas muitas outras sofrem com a seca", diz.
A Declaração
apresentada na entrevista revela que, de acordo com o Ministério da
Integração Nacional, é no semiárido que se concentra mais da metade da
população pobre do Brasil. O documento diz ainda que, segundo dados do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 67,4% das crianças e
adolescentes no semiárido são afetados pela pobreza.
Realidade
"O
semiárido está mergulhado em uma das maiores secas. Dos 184 municípios
do Estado do Ceará, 176 municípios encontram-se em estado de emergência
decretados. Fato que afeta diretamente a agricultura familiar camponesa.
Atualmente, aproximadamente 36 municípios se encontram em plena
situação de colapso hídrico sendo abastecidos por carros-pipas via
Defesa Civil, fato este que exige maior atenção por parte dos governos
estadual e municipais para minimizar os efeitos causados pela seca ao
povo que sofre diretamente os malefícios provocados pela estiagem", é o
que revela os bispos na Declaração.
O documento frisa ainda que
atualmente, o Ceará é dotado de uma infraestrutura de armazenamento de
água formada por 8 mil açudes. "Fica claro, portanto, que o semiárido
cearense tem água; o que falta são políticas públicas efetivas que
possibilitem o acesso pelas populações camponesas", diz a carta.
Para
dom Antônio Roberto Cavuto, presidente da Cáritas Regional e bispo de
Itapipoca, é imprescindível disseminar o uso de tecnologias sociais,
como as cisternas de placa, cisternas na calçada, as barragens
subterrâneas e as casas de semente. "Elas são de pequeno porte, mas
importantes devido a sua abrangência e funcionalidade no semiárido",
ressalta.
Segundo os religiosos, os dados na Declaração são de
órgãos públicos e entidades sociais, e da própria realidade do semiárido
acompanhada por meio de visitas das dioceses às comunidades rurais que
vivem nessas regiões.
Fonte; Diario do Nordeste Online
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