quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Bispos cobram combate à seca

"Convocamos os poderes públicos a reconhecerem suas responsabilidades intransferíveis na inversão de valores que priorizam a convivência com o semiárido em detrimento de arcaicas e fracassadas práticas de combate à seca". Esta é uma das reivindicações da "Declaração sobre o atual momento de seca no Ceará", destacadas à imprensa na manhã de ontem pelos bispos do Ceará e representantes da Cáritas Regional, durante entrevista coletiva, na Casa de Encontro Maria Auxílio, em Fortaleza.

Dos 184 municípios, 176 encontram-se em estado de emergência decretado, afetando diretamente a agricultura familiar fotos: Waleska Santiago
Durante a reunião, os religiosos apresentaram o documento no qual retrata, em números e argumentos, a preocupação da Igreja, dos movimentos e pastorais sociais, além da sociedade civil organizada, quanto a atual situação do semiárido nordestino e quanto também à ação dos gestores estadual e municipal para minimizar a situação.

Eles revelaram que a Declaração foi entregue em maio por eles ao governador do Estado, Cid Gomes, e ao secretário do Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins. A carta com as propostas de ações emergenciais e estruturantes de convivência com o semiárido, é resultado de um encontro anterior, entre os mesmos representantes que elaboraram o documento.

De acordo com dom José Haring, presidente do Regional Nordeste I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo de Limoeiro do Norte, a cobrança ao governo estadual, por meio da imprensa, ocorre justamente pela demora na resposta do gestor estadual à carta.

"Chamamos à imprensa para mostrar esta carta que apresenta as ações elaboradas pelos bispos e movimentos sociais, a fim de cobrar mais políticas públicas do governo e celeridade nas ações que destacamos na carta. Avaliamos que as políticas públicas existentes são positivas, é verdade, mas não suficientes para todo o semiárido. Existem regiões com grande potencial hídrico, mas muitas outras sofrem com a seca", diz.

A Declaração apresentada na entrevista revela que, de acordo com o Ministério da Integração Nacional, é no semiárido que se concentra mais da metade da população pobre do Brasil. O documento diz ainda que, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 67,4% das crianças e adolescentes no semiárido são afetados pela pobreza.

Realidade

"O semiárido está mergulhado em uma das maiores secas. Dos 184 municípios do Estado do Ceará, 176 municípios encontram-se em estado de emergência decretados. Fato que afeta diretamente a agricultura familiar camponesa. Atualmente, aproximadamente 36 municípios se encontram em plena situação de colapso hídrico sendo abastecidos por carros-pipas via Defesa Civil, fato este que exige maior atenção por parte dos governos estadual e municipais para minimizar os efeitos causados pela seca ao povo que sofre diretamente os malefícios provocados pela estiagem", é o que revela os bispos na Declaração.

O documento frisa ainda que atualmente, o Ceará é dotado de uma infraestrutura de armazenamento de água formada por 8 mil açudes. "Fica claro, portanto, que o semiárido cearense tem água; o que falta são políticas públicas efetivas que possibilitem o acesso pelas populações camponesas", diz a carta.

Para dom Antônio Roberto Cavuto, presidente da Cáritas Regional e bispo de Itapipoca, é imprescindível disseminar o uso de tecnologias sociais, como as cisternas de placa, cisternas na calçada, as barragens subterrâneas e as casas de semente. "Elas são de pequeno porte, mas importantes devido a sua abrangência e funcionalidade no semiárido", ressalta.

Segundo os religiosos, os dados na Declaração são de órgãos públicos e entidades sociais, e da própria realidade do semiárido acompanhada por meio de visitas das dioceses às comunidades rurais que vivem nessas regiões.

Fonte; Diario do Nordeste Online

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