segunda-feira, 12 de setembro de 2011

'Vi três barcos antes do resgate', diz pescador que ficou 7 dias à deriva

Francisco Januário fez a primeira refeição em terra firme em Acaraú

O pescador Francisco Januário, 61 anos, que passou sete dias à deriva em alto-mar apenas com um bote inflável retornou à residência, em Natal (RN) na noite deste domingo (11). Ele se recupera da exaustação física e da desidratação. O pescador falou ao G1 e relatou como sobreviveu durante “sete dias de agonia”. Ele disse que avistou três barcos antes de ser salvo e que o bote que foi buscar quando se perdeu no mar ''veio'' até ele.
Segundo ele, sobreviveu graças à experiência que adquiriu profissionalmente. “O pessoal da Marinha sempre diz que nas horas de aperreio a principal coisa a fazer é manter a calma. Deixe o desespero e fique calmo. E foi assim que eu me mantive na noite do acidente”, diz.
Januário e outros oito colegas de profissão estavam no sábado (3) no barco pesqueiro Água do Rio Negro. Um problema no motor do veículo deixou o barco à deriva. Era início de uma noite tempestuosa, as ondas chegavam a cinco metros de altura, segundo a Capitania dos Portos de Rio Grande do Norte. Januário deu um “nó de porco” na perna atando-o ao barco para resgatar um bote com equipamentos de primeiros-socorros que havia caído do barco.
“Quando dei umas 15 braçadas até o bote, a linha na perna se soltou. Anoiteceu, chovia, ficou tudo escuro e eu sem nada.” Na manhã, o pescador teve sorte e achou a maleta onde estava o bote inflável: “Eu não achei o bote, mas ele veio até a mim”, relata.
No bote inflável, até então desmontado, havia alimentação, água potável, medicamentos e ferramentas para uso em alto-mar, para serem usados em casos de emergências, como na situação de Francisco Januário. Ele conta que o rompeu o lacre com as unhas, após cerca de duas horas arranhando uma corda. “Enquanto isso eu tava agarrado na boia, debaixo do braço, vindo onda e eu engolindo água o tempo todo. Quando puxei a corda. E o bote inchou.” 


Navios avistados
Januário diz que avistou três navios antes do barco que o resgatou. A primeira embarcação que ele avistou foi domingo (4), um dia após o acidente que o deixo à deriva em alto-mar. “Usei o apito, dei com a mão, usei sinalizador e nada. Não adiantou e o barco foi embora.” No segundo barco, Januário relata que chegou a avistar um homem. “Eu gritei, pedi por socorro. 'Me ajude, estou à deriva', eu disse. Ou ele não ouviu ou achou que estava passeando.” "Tinha dias que eu chorava, diz que eu ficava o tempo todo triste."

Os homens que resgataram Januário eram pescadores de Acaraú, no litoral Oeste do Ceará. Januário diz que avistou o barco de longe e gritou: “Pedi socorro, que me ajudassem por favor. Eles me pegaram pelo braço e me disseram: 'Não se preocupe, senhor, o senhor está seguro'.” No barco, Januário diz que recebeu alimentação, e banho de água doce, e em seguida se deitou em um colchão do barco. “Estava tão cansado, com o corpo todo duro, principalmente os pés. Mas era tão cansaço que não consegui dormir.”   
O pescador foi encontrado por volta de meio-dia do último sábado (10), e chegou à terra firme por volta de 17h. O dono do barco usou o rádio para que contatassem a família de Januário, em Natal. “Fiquei sabendo por uma amiga. Foi uma vitória. Assim que soubemos corremos para Acaraú”, diz a filha Mércia Souza, de 26 anos.
Kit sobrevivência no bote salva-vidas continha
remédios, alimentos e água potável
(Foto: Mércia Souza/Colaboração)

Comida racionada
No bote salva-vidas, Januário diz que havia bastante ração. “Calculei se passasse uns 17 dias dava para sobreviver, mas água era pouca, eu tinha muita sede, sede demais!”, conta. Januário também teve o azar de ter duas vezes o bote virado. Por conta dos incidentes, ele perdeu parte da ração e da água, além de remédios e sinalizadores.

Na ração há comida desidratada, feita para não estragar ao longo do tempo. “Tinha uma cocada finhinha, rapaz. Um capricho”
Era toda hora um vento forte e por isso o bote virava. Por causa do vento e também não conseguia dormir. Só no quinto dia, quando deu um vento fraco é que consegui dormir.” Januário Souza diz que o maior empecilho em alto-mar, além das dores musculares e da sede, era o frio extremo. “Todo hora, de dia e de noite, era um vento gelado, um frio danado.”
Fonte G1.com

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